Neutralidade da ciência e determinismo tecnológico

Nas últimas décadas, as discussões acadêmicas sobre Política de Ciência e Tecnologia no Brasil e na América Latina deixaram de ser feitas exclusivamente sob a égide das Ciências Econômicas. Embora a economia ainda desempenhe um papel de destaque nas análises da Política de C & T, outras áreas tem sido paulatinamente recrutadas, contribuindo para a formação de uma visão mais ampliada e multifacetada sobre o tema . O livro em questão, Neutralidade da ciência e determinismo tecnológico: um debate sobre a tecnociência, é um claro indicativo dessa tendência. Seu autor é Renato Dagnino, professor titular da Universidade de Campinas e um dos fundadores do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) dessa mesma universidade. Mobilizando ferramentas analíticas advindas do campo dos estudos de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), Dagnino passa em revista um grande volume bibliográfico relativo a áreas de Economia da Tecnologia e Teoria da Inovação, Sociologia da Ciência, História da Tecnologia, Estudos Sociais da Ciência, Epistemologia e História da Ciência. Seu primeiro objetivo é didático e taxionômico: o autor pretende classificar esse conjunto bibliográfico em dois grandes modelos. De um lado, está a abordagem “com foco na C & T”, que subdivide-se na “neutralidade da ciência” e no “determinismo tecnológico”. Do outro lado, situa-se a abordagem “com foco na sociedade” que, por sua vez, pode ser dividida, segundo o autor, na “tese fraca da não-neutralidade” e na “tese forte da não-neutralidade”. Essa classificação será operada em função das implicações de cada abordagem para a elaboração de políticas de C & T, especialmente na América Latina. Ao mesmo tempo, o livro pretende apresentar – diante dos debates sobre as abordagens em questão – uma contribuição à relação entre determinadas agendas políticas, especialmente aquelas voltadas aos conteúdos de C & T, e certas abordagens teóricas a respeito das relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade. Desse