Mãos criadoras de Vida
, Goiânia, v. 5, n.1, p. 187-207, jan./jun. 2007.
MÃOS CRIADORAS
DE VIDA: CERAMISTAS
DO VALE DO
JEQUITINHONHA*
SÔNIA MISSAGIA MATTOS**
Resumo: a interpretação da arte do barro no Jequitinhonha deve considerar toda a vida social dos seus produtores. Estudar a arte do barro foi um desafio porque, como símbolos, as peças elaboradas adquirem seus referentes na dinâmica das atividades diárias e nas experiências de seus criadores. Procurei, assim, relacioná-las com a dinâmica geral das experiências desses artistas e com seu modo próprio de expressar os sentimentos, as emoções e a vida. Visando explorar uma sensibilidade cujos fundamentos são tão amplos e profundos quanto a existência social, nada foi métrico ou mensurável no exercício realizado.
Palavras-chave: arte do barro, Jequitinhonha, histórias de vida rabalhar a arte do barro do Jequitinhonha foi aprender a buscar os sentidos dados por quem cria um trabalho de arte tradicional que, entre as mãos sábias dos mestres, acaba sendo uma arte sempre recriada. Assim, busquei explorar na arte do barro uma sensibilidade que é uma formação coletiva e cujos fundamentos são tão amplos e profundos quanto a existência social. Nada foi métrico nem mensurável. No seu trabalho, aqueles artistas materializam experiências do viver de modo que todos possam olhá-las e pensar sobre elas.
No mundo da arte do barro, não se entra de imediato.
O que diz uma ceramista pode ser uma das entradas:
Vou pegando o barro e já vem aquela vontade de trabalhar... Já vem aquela espécie na cabeça. Assim, também, se eu for fazer
T
188
, Goiânia, v. 5, n.1, p. 187-207, jan./jun. 2007. aquela peça que veio no pensamento e eu trocar por outra, aquela outra não dá certo. Só dá certo aquela que veio no pensamento.
Tem este mistério no meio. Só dá certo aquela que veio no pensamento. É muito mais pior fazer a cópia do que aquela peça que veio na cabeça, por instrução da gente mesmo. É muito difícil dar certo. Dá, mas dá