Musas e ser
O Canto sobre o nascimento dos Deuses e do mundo, primeiramente é pronunciado pela palavra “Musas” que são numinosa, força das palavras cantadas que se encantam no canto. Dentro da perspectiva arcaica as Musas, são o canto em seu encanto. O nome das Musas é o próprio ser porque quando se expressam, quando o nome delas se apresenta em seu ser, O ser, nome delas se pronuncia.
As musas são a origem do canto, tanto ao que se refere ao inaugural como no dirigente construtivo (da arkhé). Segundo Torrano, o canto é guiado pelas musas, e não pelas habilidades humanas do cantar. São a própria força e presença das musas que geram e dirigem o nosso canto.
Elas têm grande e divino o monte Hélicon. Como as Deusas o tem por morada, elas o conservam na grandeza e sacralidade em que ele se mostra. É pela presença delas que ele, o Hélicon, se dá em sua presença imponente e sagrada. As Musas são um poder de pré-sentificação, por se apresentarem inúmeros momentos e de modo diversificado neste hino que abre a teogonia.
A dança é uma atividade de magia que o pensamento mítico analógico crê garantir a perenidade do fluxo da fonte. O círculo ininterrupto, que a dança constitui, comunicaria por contágio o seu caráter de renovação constante e de inesgotável infinitude ao fluxo da água, preservando-o. Nestes dois versos justapostos (3-4), as Musas dançam em torno da fonte violácia e do alto do fortíssimo Zeus. Como centro criado pela circunferência da dança, a fonte e o altar se equivalem. E todo o contexto deste proêmio, mostrará que como a fonte é fortalecida e mantida pela dança, o altar do bem forte filho de Cronos (i.e., a presença da própria força de Zeus) é mantida pelo canto e danças das Musas. O fluxo recebe da dança a sua força e o altar de Zeus, força suprema, também a recebe da voz e da dança das Musas. Um verbo como mélpomai (= “cantar-dançar”), donde o nome Melpoméne para uma delas, indica o quanto eram sentidos pelos gregos antigos como uma unidade os