Moralidade e Consumo
Patrícia Gonçalves1
Introdução
O cigarro revela uma trajetória que evidencia uma mudança de discursos e posturas tanto das instituições quanto dos agentes sociais de importância extremamente significativa, gerando um verdadeiro ‘cerco’ sobre seu uso, consumo, comercialização e publicidade, que estão estabelecidos em normas e leis e, por conseguinte, afetando as relações sociais no cotidiano.
Há, inevitavelmente, uma transformação e uma substituição da imagem do cigarro nos últimos anos.
Pretendo abordar neste artigo os usos do tabaco através do cachimbo, charuto e cigarro; partindo dos estudos de antropologia do consumo, no sentido de discutir que a cruzada antitabagista tem suas estratégias muito mais voltadas para o cigarro quando comparada aos seus congêneres.
Apontar que o tabagismo mesmo tendo sido elevado à categoria de doença pela Organização Mundial de Saúde desde 1992, o ‘fumar cigarro’ encontra-se imerso em redes de significações, de mediação e de inserção, enfim, perpassando as esferas da escolha individual e da sociabilidade, mediada e acessada pelo consumo; estando, assim, além do convencionalmente chamado vício ou droga.
Fumar parece depender de identificações míticas, bem como de usos sociais, aliado as suas propriedades estéticas e formas de comercialização. Podendo ser analisado sob o enfoque simbólico que lhe confere atribuições poéticas, sagradas ou eróticas, cercadas de tabus e de uma aura de ‘perigo’, sendo, concomitantemente, um depositário de prazer ilícito e um estímulo à repressão.
Num olhar mais amiúde sobre cachimbos ou charutos, categorias como ‘arte’, ‘degustação’, ‘tradição’ e ‘confrarias’ logo emergem acerca destas maneiras de fumar tabaco.
O cachimbo estaria ligado à parte racional da alma, explicando a tendência de associarmos a ele representações sábias, estudiosas, meticulosas e observadoras; como o personagem Sherlock Holmes já que ‘o cachimbo persiste, não se