Mitologia x filosofia

A disponibilidade para críticas e questionamentos no discurso filosófico é um reflexo de seu real objetivo: a busca pelo saber. Os pensamentos são baseados em um encadeamento lógico e coeso das ideias, sem a pretensão de se tornarem verdades absolutas. Isto é, todas as linhas de raciocínio são consideradas legítimas e contribuem para a evolução da análise de um objeto de estudo. Neste caso, a explicação de sua natureza não visa somente justificar sua existência, mas permitir que a origem e o funcionamento de tal objeto - tanto no escopo da physis quanto do cosmos - sejam observados dentro da realidade. E este é um campo em que todos têm condições de opinar e participar.

A mitologia é tida como antecessora da filosofia, por também ter em seu cerne a intenção de explicar os fenômenos da natureza e do mundo. A grande diferença está na abordagem que cada linha de pensamento emprega sobre tal objetivo. O discurso mítico expressa a visão de mundo dos povos que o adotam, se preocupando com a realidade de seu contexto. Isso significa que os mitos se aproximam de seu povo por compartilharem valores e ideais, mas se mantêm distanciados por serem entidades sobrenaturais, responsáveis pelos eventos em questão. Assim, ao invés de apresentar uma análise de cunho investigativo, a mitologia apela para o viés sagrado para justifica-los. Essa abstração blinda o discurso mítico: a realidade é transferida para a dimensão do fantástico - onde tudo é possível e, portanto, nada precisa ser questionado.

Tal aceitação indubitável das explicações oriundas de elementos fantasiosos está relacionada à sinergia existente entre mito, cultura e tradição de um povo. Os mitos assumem um valor próximo ao religioso, estando também sujeitos a acompanhar as modificações no panorama da sociedade em questão. Não somente o apelo ao sagrado é suficiente para justificar a natureza por desinteresse em obter outra explicação, como o fato de estar intrínseco em uma sociedade impede a dissociação de suas