Mintzberg Produtividade Que Mata 1
Produtividade que mata
U
m economista distante no tempo que tentasse entender o colapso da indústria americana no ano de 2008 ficaria perplexo ao constatar que, nesse mesmo ano, a produtividade das empresas dos EUA seguia de vento em popa. Como então explicar as ondas de enxugamento de pessoal, de fusões fracassadas, de agressão ao meio ambiente e a derrocada dos sindicatos? Este artigo, escrito ficticiamente no futuro, demonstra como a produtividade observada nesse período era, na verdade, de tipo altamente nocivo.
imagem: cris tassi
por Henry Mintzberg McGill University
Analisando em retrospecto a grande depressão que começou em 2008, os economistas oferecem suas explicações corriqueiras. O desequilíbrio comercial americano era enorme havia anos; o governo Bush estava acumulando enormes déficits orçamentários; os americanos não poupavam – muitos hipotecavam repetidas vezes suas casas para
manter seus gastos; confiava-se que investidores estrangeiros, principalmente o governo da China, forneceriam os recursos faltantes. Isso não podia durar, concordam os economistas em retrospecto; a gota d’água caiu em 2008.
Mas há uma coisa que ainda intriga esses economistas.
A economia americana parecia ir tão bem naquela época! As
GVexecutivo • 17
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empresas apresentavam lucros robustos e pareciam incrivelmente eficientes. “Aumenta a produtividade nos EUA”, dizia uma manchete do International Herald Tribune, em dezembro de 2005, com o subtítulo “Diminuem os custos do trabalho à medida que a produção aumenta”. Parecia muito alentador. Como isso pôde acontecer?
Naquela estranha época, o “valor para o acionista” nada tinha a ver com o valor da empresa, quanto mais com qualquer valor humano. Era um eufemismo para a prática de aumentar o preço das ações o mais rapidamente possível. Isso se tornara uma febre na década de
2000, com os analistas de mercado exercendo enorme pressão sobre os altos executivos para que
Naquela estranha