Minha é uma decepção e me sinto sozinho é lixo
É preciso também que não vás nunca escolher tuas palavras em ambigüidade: nada mais caro que a canção cinzenta onde o Indeciso se junta ao Preciso.
São belos olhos atrás dos véus, é o grande dia trêmulo de meio-dia, é, através do céu morno de outono, o azul desordenado das claras estrelas!
Porque nós ainda queremos o Matiz, nada de Cor, nada a não ser o matiz!
Oh! O matiz único que liga o sonho ao sonho e a flauta à trompa.
Foge para longe da Piada assassina, do Espírito cruel e do Riso impuro que fazem chorar os olhos do Azul e todo esse alho de baixa cozinha!
Toma a eloqüência e torce-lhe o pescoço!
Tu farás bem, já que começaste, em tornar a rima um pouco razoável.
Se não a vigiarmos, até onde ela irá?
Oh! Quem dirá os malefícios da Rima?
Que criança surda ou que negro louco nos forjou esta jóia barata que soa oca e falsa sob a lima?
Ainda e sempre, música!
Que teu verso seja um bom acontecimento esparso no vento crispado da manhã que vai florindo a hortelã e o timo...
E tudo o mais é só literatura.
As pombas
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...
Ser poeta
Florbela Espanca
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É