manheim
Em geral, tomamos ideologia e utopia como sinônimo. Por exemplo, nos referimos ao comunismo (socialismo) e, praticamente com o mesmo sentido, à utopia comunista (socialista); da mesma forma, consideramos a ideologia anarquista como semelhante à utopia libertária. Quando, porém, aludimos às ideologias de cunho conservador e/ou liberal, não estabelecemos vínculos com utopias. Na linguagem política corrente, essas ideologias são concebidas como valores e idéias que legitimam e mantêm o status quo. Geralmente não falamos em “utopia conservadora” e “utopia liberal”. Reservamos a expressão utopia para as ideologias contestatórias, as quais colocam-se como objetivo o revolucionamento da ordem social e, portanto, a construção do “não-existente” a partir da negação do “existente”. Por isso, é mais comum falarmos em utopias comunista, socialista e anarquista.
Se tomarmos, porém, o pensamento liberal em suas origens, é possível fazer o mesmo raciocínio. Numa época em que predominava a sociedade feudal e a ideologia da nobreza e do clero era seu sustentáculo, as idéias liberais diziam respeito ao “não-existente”, à transformação da ordem social tradicional e sua superação pelo liberalismo, pela ordem social do Capital. O liberalismo foi revolucionário e, portanto, utópico. Mas tão logo derrotou o feudalismo e conquistou seu espaço, tornou-se uma ideologia conservadora e perdeu seus traços utópicos. Não podia ser diferente, pois se a burguesia levasse às últimas conseqüências seu lema “Igualdade, Liberdade, Fraternidade”, teria que negar-se a si própria. E nenhuma classe social comete suicídio político.
O mesmo ocorreu com o “socialismo realmente existente”: à sua vitória seguiu-se a necessidade de conservar a ordem. Os revolucionários de hoje são os conservadores de amanhã. Não é mero acaso que, seja nas revoluções burguesas ou nas socialistas, surja a crítica interna dos setores minoritários que almejam empurrar