Maes Lacanianas I Pdf 1
Marcus André Vieira e Romildo do Rêgo Barros
I - Hans e a mãe do desejo
Abertura
Em meu nome e no de Romildo dou a todos boas vindas para estes seis encontros com o título “Mães Lacanianas” que, parece, interessou.
Marcus:
Queria, para começar, dar a vocês uma ideia de como surgiu este tema. Assistíamos a uma conferência de Eric Laurent na preparação para o quinto ENAPOL (Encontro
Americano de Psicanálise de Orientação Lacaniana) aqui no Rio. Era uma conferência sobre o autismo, que aconteceu na Academia Brasileira de Letras. Comentando sobre as mães e os pais de hoje ele recordou uma tirada de Jacques-Alain Miller numa conversação clínica: os pais sumiram, então, talvez sejam as mães hoje aquelas que desempenham a função paterna. As mães desempenhando a função paterna? A princípio não seria tão estranho. É uma função e justamente por isso ela não se confunde com aquele que a desempenha, não está necessariamente condicionada nem mesmo ao sexo biológico de quem a sustenta. Poderíamos até mesmo imaginar uma mesma pessoa desempenhando as duas funções, mãe e pai. Por que não? Mas será, então, que a função paterna, tal como Lacan descreveu, estaria mudada pelo fato das mães estarem desempenhando-a? Começamos por aí.
Depois a coisa caminhou, em vez de nos concentrarmos na função, resolvemos alargar o foco, abordando a cada vez uma figura materna. Apesar da pluralidade, entendo este percurso com as mães como um modo de interrogar o outro lado da moeda lacaniana.
Porque o lado paterno é bastante conhecido. Ele é até usado como argumento contra
Lacan, como se ele descuidasse da mãe por tanto falar em pai.
As “mães lacanianas” são nosso modo de acessar as ferramentas desenvolvidas por
Lacan com relação à família e à subjetivação necessária para uma criança dizer “Eu sou eu” a partir de outro ângulo. Queremos revisitar a maneira como alguém se constitui em seu corpo, em seu gozo, em sua identidade no campo social, neste jogo que