luís de camões
“Lembranças, que lembrais meu bem passado”
Lembranças, que lembrais meu bem passado para que sinta mais o mal presente: deixai-me, se quereis, viver contente, não me deixeis morrer em tal estado.
Mas se também de tudo está ordenado viver, como se vê, tão descontente, venha, se vier, o bem por acidente, e dê a morte fim a meu cuidado.
Que muito milhor é perder a vida, perdendo-se as lembranças da memória, pois tanto dano faz o pensamento.
Assi que nada perde quem perdida a esperança traz de sua glória, se esta vida há-de ser sempre em tormento.
Análise do poema
Estrutura externa
O texto é um soneto constituído por duas quadras e dois tercetos, em metro decassílabo, com esquema rimático: ABBA/ ABBA/ CDE/ CDE, verificando-se a existência de rima interpolada em A, emparelhada em B e interpolada novamente em C, D, e E.
O tema deste soneto é o Amor, e os efeitos que este traz no sujeito poético.
Estrutura Interna
O poeta dirige-se a um interlocutor, que são as suas memórias/lembranças do passado, e pede-lhes que o deixem viver contente: “deixai-me, se quereis, viver contente.”, se não, prefere a morte, visto que não tem nada a perder: "venha, se vier, o bem por acidente, / e dê a morte fim a meu cuidado.”; “Que muito milhor é perder a vida,” (…) “se esta vida há-de ser sempre em tormento”.
O sujeito poético passa por uma fase em que anuncia que se não pode viver contente, então prefere morrer: “não me deixeis morrer em tal estado”.
Ainda que o seu passado tenha sido bom, “…meu bem passado”, o presente já não corre tão bem: “…sinta mais o mal presente…”. Assim, a morte trar-lhe-ia paz, pois, ao perder as suas memórias, todo o dano causado por estas a seu pensamento seria eliminado: “Que muito milhor é perder a vida,/perdendo-se as lembranças da memória,/pois tanto dano faz ao pensamento". Deste modo, toda a esperança perdida e a vida em constante tormento acabariam: “…que nada perde quem perdida/ a