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1. O olhar estrábico de Bento Santiago: imagens de Capitu
Sabemos que o discurso de Bento Santiago nunca é neutro, já que apresenta mecanismos capazes de controlar os meios de representação. Nesse sentido, Dom Casmurro é uma obra concebida e construída a partir da centralidade e da visão soberana de um único sujeito, em que a mulher é sujeitada às determinadas representações normativas as quais são “reguladas por práticas sociais e discursivas que
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sancionam estruturas patriarcais, ou seja, a mulher objeto olhado, falado, desejado e consumido, coexiste com a mulher agente do discurso” (SCHMIDT, 1999, p. 24).
Durante muito tempo, Capitu foi vista pelos críticos como o motivo da ruína emocional do narrador. Acusada de trair o marido com o melhor amigo dele e, pior, de enganá-lo com um filho ilegítimo, foi encarada como o protótipo da mulher devassa, sem caráter e impostora. Os exemplos desse tipo de análise são vastos, todos embasados na esperteza da personagem desde sua meninice, qualidade esta narrada por Bento, um homem amargurado e pouco confiável. Alfredo Pujol, a exemplo de tantos outros, não escapa a esse tipo de juízo e em sua obraMachado de Assis condena Capitu. De acordo com ele, “Capitolina – Capitu, como lhe chamava em família – traz o engano e a perfídia nos olhos cheios de sedução e de graça. Dissimulada por índole, a insídia é nela, por assim dizer, instintiva e talvez inconsciente” (1934, p. 238). O crítico vai mais além e arrasa a personagem.
Ardilosa e pérfida, acautelada e fingida, Capitu soube ocultar aos olhos do marido a sua ligação criminosa com Escobar. A verdade aparece a Bentinho esgarçada, a espaços, pelos fios tenuíssimos de coisas mínimas, que ele compara umas às outras, nas suas noites de insônia (PUJOL, 1934, p. 247-8 – grifo nosso).
Astrojildo Pereira (1959, p. 24) também não foge à regra, já que para ele Capitu é a “soma e fusão de múltiplas personalidades, espécie de supermulher toda ela só instinto metida na pele de uma

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