Livro

672 palavras 3 páginas
O crime do restaurante chinês parece simples e pouco ambicioso. E é dos melhores livros nacionais de história publicados na primeira década desse século.
Boris Fausto reconstitui, a partir de jornais e documentos policiais, o assassinato de quatro pessoas perto da Praça da Sé, na manhã da quarta-feira de cinzas de 1938. O crime impressionou pela brutalidade e pela dificuldade de entender seu enquadramento no mundo em que se deu.
São Paulo, a princípio, era uma cidade acolhedora. Para cá vinham imigrantes de outras partes. Para cá vinham os que esperavam oportunidades que não havia por lá. Chineses, por exemplo. Ou lituanos, como o funcionário do restaurante, que encontrou os corpos imersos em sangue e violência. Ou, ainda, como o primeiro e principal suspeito, um negro de 21 anos, Arias de Oliveira, que viera de Franca para a capital no ano anterior.
O autor refaz a trama e percebe como a sociedade paulistana projetou, no caso do restaurante, todas as suas representações negativas e positivas. Identifica como asiáticos, europeus e negros – vindos de qualquer parte – eram vistos pela lente do quotidiano, tão distinta do discurso oficial que celebrava a capital vicejante dos paulistas. Reconhece o papel decisivo da imprensa na culpabilização do negro, suspeito da hora, e sua convicção de que os estudos frenológicos, em voga há meio século, faziam sentido.
No lugar da cidade acolhedora, Boris Fausto tece a imagem de uma rede intrincada de relações, confusas e oscilantes, que perfaz o sentido da nossa modernidade peculiar e expressa melhor o crescimento de São Paulo do que as múltiplas imagens tecnológicas que o modernismo dos anos 1920 projetara.
É pelo fio do miúdo, do detalhe – do micro que ilumina o conjunto – que enxergamos o cenário em que o negro Arias é acusado, forçado a confessar e, depois, isentado de culpa. A volta do parafuso se inverte quando outro negro, um diamante: Leônidas da Silva, redime o futebol brasileiro nos campos franceses da Copa de

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