Livro

QUE RAIO DE
PROFESSORA SOU EU?

Fanny Abramovich

Fui hoje assistir uma conferência. Supercuriosa. O assunto me preocupa. “O moderno ensino de História”. O conferencista, superbadalado, pra lá de conhecido, com um montão de livros pu blicados. Fui bemacesa. Sentei, peguei minha Bic nova, abri o caderno e me preparei. Esperando as grandes frases pra anotar. O conferencista bateu o olho, me viu. Disse que se eu quisesse ler o que ele pensava que lesse seus livros. Não precisava tomar notas como uma aluna de colégio. E que um caderno poderia ser usado para fins mais interessantes, como fazer um diário. Morri de vergonha. Fiquei roxa. Achei que todos estavam me olhando. Ninguém estava. Estavam fechando seus cadernos, guardando suas canetas. Apressadamente. A palestra terminou e até que não foi tão cheia de novidades como imaginei. Média. Saí com a ideia do diário na cabeça. Martelando. Lembrando dos que fazia quando mocinha. Senti saudades daquele tempo. De mim, naquele tempo. Resolvi aproveitar mesmo este caderno. Escrever. Não um diário sobre tudo o que acontece a cada dia. Mas um caderno de anotações. Sobre mil coisas que mexem comigo, não importa quando. Pode ser legal. Divertido. Não perco por experimentar...

Implico com meu nome. Meu nome completo. De solteira.

Laura Maria de Azevedo Lima.

Laura, não desgosto. Mas Laura Maria não combina. Decididamente. E de Azevedo Lima é um pouco comprido demais. Quando casei ficou um absurdo. Laura Maria de Azevedo Lima Albuquerque Prado. Nome de rua. Não. De avenida. Pra assinar um cheque demorava horas. Descasei, cortei, simplifiquei. Só Laura Lima. L.L. Simples, sonoro. Discreto. Dizem que iniciais duplas dão sorte. Mar- cam presença. Tomara que isso aconteça um dia... Por enquanto, são bem desconhecidas. Quase anônimas.

Estou