livro recordações da casa dos mortos

Recordações da Casa dos Mortos de Fiódor Dostoiéviski é um livro que retrata bem esta preocupação do escritor russo em descrever, minuciosamente, a rotina dos presos nas casas correcionais siberianas. Desta forma, Dostoiévski transforma em ficção sua dura experiência de cárcere por meio de um narrador que lê as memórias de Alexander Petrovich Goriantchikov condenado a dez anos de reclusão na Sibéria por ter assassinado a esposa. Estas memórias só foram encontradas após a morte de Alexander muito tempo depois. As anotações narram os dez anos de convivência como detento, as histórias que por lá ouviu de seus companheiros de cela e as suas impressões desde a chegada à Sibéria até sua libertação.
Interessante perceber que as razões e motivações que levaram Alexander a assassinar a esposa não são narradas no livro. Muito menos a “consciência” do crime praticado ou o arrependimento por tal ato. O que o escritor russo quis realmente contar foi a experiência dolorosa de ter que conviver durante tanto tempo ao lado de tantos criminosos (ou nem tanto) em um ambiente sem qualquer finalidade de recuperação moral ou ética. Até porque, estes lugares não possuem mesmo tais propósitos. Sua dor foi seu castigo como detento. Seu aprendizado como pessoa foi perceber (e aceitar) as diferenças entre as pessoas e respeitar estas diferenças. Em Crime e Castigo temos ali a noção de “consciência” do personagem que, mesmo liberto, viveu a vida inteira preso na sua própria dor e consciência do crime praticado. Nesta obra acontece o contrário: Alexander não possui a consciência (nem a discute ou pondera), mas sofre na pele as consequências de seus atos. Dostoiésvki realmente se interessa pelo ser humano, seu sofrimento e os limites da ação humana dentro da ordem social.
Por ser um nobre e de boa instrução Alexander sofre preconceito dos demais detentos e leva uma vida mais reclusa e de poucos amigos. À medida que aceita a sua atual situação e interage com os demais presos através do