Livro Caparaó
São Paulo: Boitempo, 2007.
(335 p.)
José Caldas da Costa
Jean Rodrigues Sales1
No 1, Ano I, 2007
O livro de José Caldas da Costa trata de um episódio na história da luta contra a ditadura militar brasileira implantada em 1964: a chamada guerrilha de Caparaó, tentativa de implantação, entre meados de 1966 e abril de 1967, de um foco guerrilheiro na região em que se encontra o Pico da
Bandeira (Alto Caparaó, Minas Gerais).
O autor é jornalista, entretanto não se trata apenas de trabalho jornalístico, na medida em que ele o apresenta como a sua “versão” para os acontecimentos que, por omissão ou não daqueles que escreveram a história do período, estavam relegados ao esquecimento (p. 14).
O texto faz parte, assim, da produção recente que constrói a memória das lutas políticas travadas nos anos 1960 e
1970 no Brasil.
A obra apresenta méritos importantes. O principal deles é ter encontrado e entrevistado praticamente todos os remanescentes da guerrilha de Caparaó e assentar a sua narrativa, de forma extremante competente, nas versões apresentadas por esses antigos guerrilheiros. A segunda característica mais importante reside no fato de o autor, através das entrevistas, lograr reconstruir um pouco da história não apenas do movimento guerrilheiro, mas de um período importante da história brasileira que foi menos estudado do que muitas vezes supomos.
Após a apresentação dos personagens responsáveis pela guerrilha, em sua maioria militares de baixa patente, o texto se divide em três partes. Na primeira, “Caminhos para o golpe”, é
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apresentado o tenso ambiente dentro das forças armadas no período que antecedeu o golpe militar de 1964, particularmente após a tentativa malograda dos militares tomarem o poder em 1961. Reconstrói ainda o caminho por meio do qual os sargentos e marinheiros, aos poucos, politizaram as suas demandas. Inicialmente, as reivindicações eram por melhores