Liderança

Há alguns meses, fomos chamados por uma empresa cujo negócio havia ganhado proporções maiores que o esperado e a estrutura interna necessitava de nossa consultoria para traçar um caminho condizente com o novo momento. No decorrer da reunião, conversamos sobre a importância da liderança comercial nesse processo de crescimento. De imediato, os proprietários apontaram um possível líder, destacando seu principal talento: “Todos - funcionários, fornecedores e clientes - gostam dele. Além da experiência profissional, sua popularidade vai ajudar a integrar os representantes e, certamente, facilitará as negociações externas.”

Essa avaliação do perfil de um líder levou-nos à reflexão sobre o equilíbrio entre o autoritarismo e a tolerância desmedida. As “receitas” de liderança democrática, divulgadas por receituários de comportamento pessoal, tentam orientar as empresas sobre os malefícios da intolerância. É certo que um líder autoritário não permite questionamentos e contrapontos, pressupostos básicos da tomada de decisão. Entretanto, a leniência, ao renunciar avaliações realistas que poderiam abalar a popularidade e a comodidade do líder considerado democrático, não teria o mesmo efeito?

Vale lembrar que "para ser tolerante, é preciso fixar os limites do intolerável”, como defende Umberto Eco. Esta frase, tão bem colocada pelo pensador italiano, mostra que tolerância não é sinônimo de omissão. Na tolerância, o espírito aberto a opiniões e experiências abre caminhos para novas soluções. Na omissão, o leniente assume a posição cômoda do não questionamento, fechando os olhos para questões consideradas desagradáveis para sua condição de “líder popular”.

O líder “bonzinho” agrega as pessoas pela amizade, pela frouxidão da disciplina. Transforma a tolerância ilimitada em direito adquirido, fazendo com que a formalidade hierárquica e as normas da empresa se tornem maleáveis a ponto de serem extintas. Nesse ambiente, no qual todos se toleram, todos são amigos, as