JUDEU
CAMILO CASTELO BRANCO
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Isto é grave, porque é atroz ...
A. HERCULANO
Da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, Prólogo
À Memória de
António José da Silva,
Escritor português assassinado nas fogueiras do Santo Ofício em Lisboa, aos
19 de Outubro de 1739
PARTE PRIMEIRA
CAPÍTULO I
Há um fenómeno moral, muitas vezes repetido, e todavia inexplicável: é a esquivança desamorosa de mãe a um filho excluído da ternura com que estremece os outros, filhos todos do mesmo abençoado amor e do mesmo pai que ela, em todo o tempo, amara com igual veemência. Tristíssima verdade, exemplificada como o principal dos absurdos e lamentáveis enigmas da condição humana! Mistério é este vedado às dilucidações filosóficas; e, portanto, mais defeso ainda às superficiais averiguações de um romancista, que, muito pela rama apenas e imperfeitamente, pode desenhar o exterior dos factos, abstendo-se de esmerilhar causas incógnitas ao comum dos homens.
Exemplo desta aberração — se devemos chamar aberrações às deformidades morais que não dependem da vontade humana — era uma nobilíssima fidalga, que, em 1699, residia no seu palácio da Rua Larga da Bemposta, em Lisboa.
Chamava-se esta dama D. Francisca Pereira Teles, e era esposa de Plácido de
Castanheda de Moura, contador-mor dos