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Inês Pereira está sentada bordando em sua casa e sua Mãe, ao ouvir suas reclamações, diz:
Inês (cantando):
Quem, vendo-vos, sofre e morre, que fará quando não vos vir?!
Inês (fala, com tom cansativo):
Renego-me de bordar
E do primeiro que o usou!
Ao Diabo que eu o dou,
Que tão mal é de aturar!
Oh Jesus, que enfadamento
E que raiva, e que tormento,
Que cegueira e, oh, que canseira!
Eu ainda hei-me de buscar outro tipo de vida...

Coitada!
(Inês, perguntando a si mesma)
Assim hei-de estar
Encerrada nesta casa
Como panela sem asa,
Que sempre está no mesmo lugar?
E assim hão-de ser gozados
Dos dias amargurados
Que eu posso durar viva?
E assim hei-de ganhar simpatia,
Neste trabalho de tira fios para bordados?
(Inês, com tom bravo e relutante)
Prefiro o Diabo do que dar mais um ponto de costura:
Já tenho a vida cansada
De permanecer sempre no mesmo lugar.
Todos folgam, e eu não;
Todas vêm, e todas vão, onde querem
Menos eu.
Hui! Que pecado é o meu?
(Inês, com tom triste)
Oh que dor no coração!
Esta vida é mais que morta

Sou eu coruja ou corujo,
Ou sou algum caramujo
Que não sai senão à porta?
E quando me dão algum dia
Licença, como a macaca,
Que possa estar á janela,
É já mais que a Madalena,
Quando achou a aleluia.

Vem a Mãe da igreja e, não a achando bordando, diz:

Mãe (com tom bravo, repreendendo sua filha Inês):
Logo eu adivinhei,
Lá na missa onde eu estava,
Como minha Inês bordava
A tarefa que eu lhe dei...
Acaba esse travesseiro!
(Mãe de Inês olhando para a própria unha e pergunta)
Hei! Nasceu-te algum unheiro?
Ou cuidas que é dia santo?

Inês (com tom irônico):
Praza a Deus que algum mau-olhado
Tire-me deste cativeiro!

Mãe (com tom preocupado):
Como tu estás mal!
(Mãe pergunta a sua filha)
Choram-te os filhos por pão?

Inês:
Prouvesse a Deus! Que já é razão
De eu não estar tão sozinha.

Mãe (com tom irônico):
Olha lá o grande mal!
Como queres tu casar
Com fama de preguiçosa?