HEGEL: A QUESTÃO DA HISTÓRIA
Característico dos jusnaturalistas é a contraposição entre princípios supra-históricos e a própria história. É por isso, diz Hegel, que eles procuram estabelecer como o Estado deveria ser, em vez de tentar compreende-lo como ele é.
Ao construírem a teoria do contrato, eles pressupõem a existência de indivíduos livres e iguais, vivendo isolados e separados uns dos outros, fora e antes da sociedade e da historia. Criam uma ficção. Esta metodologia, que procura apreender formas objetivas da existência histórica por uma via apriorística e abstrata, apenas cristaliza antíteses históricas em antíteses teóricas, sem resolve-las. Como diz Hyppolite, ao tomarem a natureza humana fora de seu desenvolvimento histórico, acabam por opor às manifestações concretas da história dos homens um conjunto de faculdades, uma possibilidade abstrata, um mero dever ser a partir do qual pretendem refazer o estado de coisas existente.
Nada mais distante de Hegel, cuja ambição era não elaborar uma filosofia da história, se por esta se entende uma filosofia sobre a história, mas a de construir a filosofia enquanto expressão especulativa da própria história. Tendo, neste sentido, verdadeiro horror a qualquer tentativa de teorizar um ideal de Estado ou um Estado ideal, a partir do qual a realidade pudesse ser medida e criticada. É assim que ele critica impiedosamente a realização pratica do jusnaturalismo, especialmente em suas vertentes rousseauniana e robespierriana:
*Conquistando o poder, estas abstrações produziram por um lado o espetáculo mais grandioso jamais visto pela espécie humana: recomeçar a priori, e pelo pensamento, a constituição de um grande Estado real, subvertendo tudo o que existe e é dado, querendo dar-lhe como fundamento um sistema social imaginado; de outra parte, como não são senão abstrações sem ideia, engendraram, nesta tentativa, os acontecimentos os mais horríveis e os mais cruéis.