harmonicos e desarmonicos

A Praça da Bandeira... o carro de boi... e as alvoradas

Minhas lembranças aparecem como se fossem vozes soprando aos meus ouvidos e formando imagens, lembranças distantes como um sonho, revivendo no presente o lugar, as pessoas, a paisagem, os sons, o cheiro, o vento... Tudo que vivi no passado. Nasci e fui criado até os 10 anos na sossegada Januacá, região Amazônica, onde só tinha selva, água e o vento fazendo a curva! Em 1945, minhas irmãs foram chamadas para lecionar no antigo Território do Rio Branco, hoje, Boa Vista. Levamos 23 dias de barco para chegarmos ao nosso tão esperado destino. Durante a viagem, tive um pouco de medo, pelo perigo existente na famosa cachoeira do Bem-Querer. Era muito perigoso aventurar-se atravessá-la na escuridão, pois correríamos o risco de naufragar. Atravessamos durante o dia sem problemas. Durante todo o percurso da viagem em que estava acordado ficava contemplando a paisagem e fazendo barquinhos de papel para jogar no rio e me admirava ver o rio levá-lo, e aos poucos ele ia sumindo... Naquela imensidão de água. Isso me deixava encantado! Chegamos, ao porto do cimento, sãos e salvos. A vida nova começou e junto grandes oportunidades. Nossa casa era de “pau-a-pique”, coberta com palha de buritis - palmeira nativa da região, ficava em frente a uma praça - Praça da Bandeira – lugar festivo e acolhedor. Ali cresci, e sempre volto lá para relembrar meu passado... Naquela época, o único meio de transporte que existia era o carro de boi. Ah, não posso esquecer o carro de boi do senhor Coruja! Tinha grandes rodas de madeira, ele usava para transportar coisas que os outros moradores compravam,era seu meio de sustento. Lembro-me do barulho que fazia com o atrito das rodas que de longe escutávamos transportando sei lá o quê! Na verdade fazia transporte de qualquer coisa, bastava contratá-lo e pronto. Lá estava o Senhor Coruja e seu carro de boi.