Gramatica
Lê, com muita atenção, o texto que se segue.
Um Velho em Arzila
|1. | Era um velho muito velho, sentado à porta da Torre de Arzila, as barbas todas brancas, os cabelos quase pelos ombros, calçava umas alpercatas|
| |rotas, vestia uma estranha camisa comprida cor de palha, tudo nele era muito antigo, excepto os jeans desbotados, que contrastavam com o resto. Reparei|
| |que trazia atada ao pescoço uma cruz enferrujada que lhe pendia sobre o peito. Tinha os olhos muito azuis, recitava uma espécie de oração, qual não foi|
| |o meu espanto quando, ao aproximar-me, reparei que repetia incessantemente o primeiro verso d’Os Lusíadas. Devo estar a sonhar, pensei. Aproximei-me um|
|5. |pouco mais e não havia dúvidas: as armas e os barões assinalados, dizia ele, as armas e os barões assinalados. Era só aquele verso, sempre o mesmo, |
| |como se rezasse. Ainda esperei que ele avançasse na estrofe, mas o homem não saía do primeiro verso. Dir-se-ia que estava dentro dele, emparedado nas |
| |sílabas de as armas e os barões assinalados. |
| |− Boa tarde – disse-lhe, tentando meter conversa. |
| |− As armas e os barões assinalados, as armas e os barões assinalados – continuou ele, sem sequer olhar para mim. |
|10. |Era um homem perdido no tempo, fechado em si mesmo, prisioneiro de um decassílabo. Que faria ele ali, sentado à porta da Torre de Arzila, repetindo sem|
| |cessar as armas e os barões assinalados? |
| |Sentei-me ao lado dele e assim que ouvi o fim do verso, antes que ele recomeçasse,