Grade de Avaliacao - Texto Narrativo

Victoria Tavaniello – Proposta B

O que os olhos não vêem o coração não sente

O áudio cortado e picotado da rádio contrastava com a suavidade daquela mão suave e enrugada que tricoteava com calma. O marido ouvia atento, curioso, nostálgico da infância pacífica e tranquila. A atmosfera que pairava sob a luz das velas permeava de alento, finalmente, aqueles dois corações.

Era setembro de 1939 e as tropas alemãs e soviéticas tinham dividido a Polônia ao meio. Havia começado a Segunda Guerra Mundial. O gueto judeu estava devastado e o povo, desesperançoso. Ia começar tudo de novo: mais mortes e mais perdas.

Todavia, a tristeza durou pouco menos de um mês. Rapidamente as boas notícias estavam sendo dispersas pela rádio local. A fé estava restaurada: a Polônia invadiu a Alemanha, destruiu os exércitos locais e conseguiu sua independência política. Haviam boatos ate de que Hitler fora assassinado e de que a Polônia tornou-se a maior potência mundial. A vila nunca foi tão feliz. Todas as famílias, ricas e pobres, juntas, comemoravam em um grande evento na praça central quase todos os dias. Cantavam, pulavam, bebiam... Sem nem cogitar o que estava prestes a acontecer.

Em pouco menos de uma semana, todos os homens estavam em caminhões gigantes, sob o controle alemão, indo para os campos de concentração. Não entendiam nada. Alguns gritavam que aquilo era um absurdo, que ninguém podia tratar assim um cidadão polonês. Outros, tentavam acalmar os colegas e pensar na família que haviam deixado em casa. No meio da bagunça, um homem pediu a atenção de todos e assumiu sua responsabilidade: a Polônia nunca havia invadido a Alemanha e muito menos era independente. Ele, que era responsável pela radio local, estava reportando boletins fictícios sobre os passos das tropas da Aliança para derrotar o exército de Hitler.

O homem, depois de tantas agressões verbais e físicas de seus vizinhos, conseguiu provar que essa pequena ação voltada para o bem foi capaz de