Filosofica cardenos nietzsche

7426 palavras 30 páginas
Nietzsche, pensador da modernidade
Vincenzo Di Matteo*

Resumo: O texto visa a identificar e compreender algumas perspectivas nietzschianas sobre a modernidade ocidental. O título “pensador” da modernidade quer destacar o fato de que suas análises não se limitam a uma crítica meramente destrutiva dos valores predominante da e na modernidade, mas apontam para uma proposta terapêutica das patologias culturais diagnosticadas. Para análise e compreensão das idéias de Nietzsche, será privilegiado o livro Genealogia da moral. No final, uma avaliação pessoal da validade e dos limites do pensamento nietzschiano sobre a modernidade. Palavras-chave: Nietzsche – modernidade – niilismo – cultura

Introdução Se há um tema, em Nietzsche, que interessa a todos nós, que nos denominamos pós-modernos, é sem duvida sua visão de modernidade. Não é sem fundamento que Habermas o considera a “plataforma giratória” na entrada da pós-modernidade.1 Servindo-nos de outra metáfora, podemos comparar Nietzsche à figura romana de Jano bifronte, a divindade dos limites. Em nosso caso, um pensador que demarca os confins da modernidade e de nossa contemporaneidade.

* 1

Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). HABERMAS, J. “Entrada na pós-modernidade: Nietzsche como plataforma giratória”. In: O discurso filosófico da Modernidade. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

cadernos Nietzsche 27, 2010

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Di Matteo, V.

É discutível se a modernidade esgotou o seu ciclo ou se estamos ainda dentro de seus parâmetros. Parece pacífico, porém, que não estamos mais vivendo do otimismo da Ilustração, graças também às inquietantes análises daquele que se autodefiniu um “derrubador de ídolos”. (EH/EH, Prólogo §2, KSA 6.258). Como, porém, interpretá-lo se, ao mesmo tempo em que nos diz: “Ouçam-me! [...] Sobretudo não me confundam” (EH/EH, Prólogo 1, KSA 6.258),2 nos convida a nos afastarmos dele porque “Retribui-se mal a um mestre, continuando-se sempre apenas aluno”? (EH/EH,

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