filosofia do amor

III

AS CONSTRUÇÕES AMOROSAS

Vamos à sua própria concepção do amor. Dissemos que Rimbaud queria reinventar o amor. Mas a partir de qual pensamento do amor pode-se, então, reinventa-lo?

Penso que é preciso abordar a questão do amor a partir de dois pontos que correspondem à experiência de cada um. A princípio o amor traça uma separação ou uma disjunção, que pode ser a simples diferença entre duas pessoas com sua subjetividade infinita. Essa disjunção é, na maioria dos casos, a diferença sexual. Quando não é esse o caso o amor impõe, mesmo assim, que se confrontem duas figuras, duas posturas de representação diferentes. Dito de outra forma, no amor você terá um primeiro elemento que é uma separação, uma disjunção, uma diferença. Você tem um Dois. O amor traça de início um Dois. O segundo ponto é que, precisamente porque ele traça uma disjunção,no momento onde esse dois vai se mostrar, entrar na cena como tal e experimentar o mundo de maneira nova, ele só pode tomar uma forma casual (ao acaso) e contingente, É o que se chama o encontro. E esse encontro,eu lhe dou o estatuto, de alguma maneira metafísico, de um acontecimento, quer dizer, alguma coisa que não entre na lei imediata das coisas. Os exemplos literários e artísticos que colocam em cena esse ponde de início do amor são incontáveis. Numerosos relatos e romances foram consagrados a este ponto onde o Dois é particularmente pronunciado, quando os dois amantes não pertencem à mesma classe, ao mesmo grupo, ao mesmo clã ou ao mesmo país. Romeu e Julieta continuam sendo, evidentemente, a alegoria dessa disjunção, já que eles pertencem a mundos inimigos. O lado diagonal do amor, que passa através das dualidades mais potentes e das separações mais radicais é um elemento absolutamente importante.O encontro entre duas diferenças é um acontecimento, alguma coisa de contingente, de surpreendente, as “surpresas do amor”,