Ficção & História

O limite entre história e ficção é tênue, podendo, às vezes, confundir-se. De um lado, a convenção literária tem a liberdade de expor uma narrativa de fatos imaginados sem que seja contestado seu caráter de veracidade. De outro lado, a História deve ater-se à realidade para que seja garantida a comprovação de seu objeto. As duas, no entanto, utilizam artifícios literários e históricos para compor o seu enredo, misturando características próprias da arte e da ciência para transmitir uma mensagem compreensível ao interlocutor.(83) Enquanto a Literatura conta com a criatividade de um autor para expor seu tema, a História baseia-se na coleta de dados do passado para a constituição de uma tese. As pesquisas documentais são fontes de estudo dos fatos históricos e garantem evidências de elementos verdadeiros que devem ser expostos à comunidade científica. No entanto, tal exposição ocorre a partir da reorganização dos fatos em um texto mediante a aplicação de técnicas literárias que darão inteligibilidade ao texto(79).
Segundo Hayden White, a narrativa histórica e a narrativa literária tem pontos em comum, na medida em que a primeira é composta mediante a desestruturação de elementos historiográficos para estruturá-los em um enredo que seja compreendido ao leitor. Ele afirma que o historiador seleciona os dados recolhidos que serão necessários na transmissão de sua mensagem e descarta os outros. Ao reuni-los em um texto em forma de prosa, o autor passa a utilizar recursos estilísticos típicos das peças literárias. Dessa forma, a composição dos fatos históricos em um enredo pode assumir caráter romântico, dramático ou satírico, dependendo da forma de abordagem do escritor. A liberdade que os literatos e historiadores têm de reescrever os fatos a partir da decomposição de outros, de acordo com White, é típica de ambos, embora seja mais restrita no caso do historiador. (135)
Dado seu caráter científico, as narrativas históricas devem conter informações passíveis de