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6147 palavras 25 páginas
HISTÓRIA, MEMÓRIA
E CENTRALIDADE URBANA
Sandra Jatahy Pesavento*
Resumo: este artigo aborda os caminhos recentes da história urbana, partindo do referencial da História Cultual. As múltiplas temporalidades do espaço urbanístico e as diversas camadas de sentido atribuídas por seus habitantes abrem novas formas de leitura possíveis e apontam para a renovação da pesquisa histórica acerca das cidades.
Todos nós, que vivemos em cidades, temos nelas pontos de ancoragem da memória: lugares em que nos reconhecemos, em que vivemos experiências do cotidiano ou situações excepcionais, territórios muitas vezes percorridos e familiares ou, pelo contrário, espaços existentes em um outro tempo e que só tem sentido em nosso espírito porque narrados pelos mais antigos, que os percorreram no passado. Estes espaços dotados de significado fazem, de cada cidade, um território urbano qualificado, a integrar esta comunidade simbólica de sentidos, a que se dá o nome de imaginário. Mais do que espaços, ou seja, extensão de superfície, eles são territórios, porque apropriados pelo social.
Mas, sobretudo, são lugares, dotados de carga simbólica que os diferencia e identifi- ca. E, se tais sentidos estão referidos no passado, fazendo evocar ações, personagens e tra- mas que se realizaram em um tempo já escoado, eles são lugares de memória, como aponta
Dossiê

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Rev. Mosaico, v.1, n.1, p.3-12, jan./jun., 2008
Pierre Nora (1993/1997), ou ainda espaços que contém um tempo, como assinala Paul Ri- coeur (1998).
A rigor, se poderia dizer que cada cidadão escolhe seus pontos de atenção e referên- cia para se situar no tempo e no espaço urbano. Eu conheço um lugar, costumamos dizer, implicando com isto que nos referimos a um recanto da cidade especial para nós, que nos toca de maneira particular. Mas também podemos ter sido induzidos, educados e ensina- dos a identificar lugares de uma cidade, partilhando das mesmas referências de sentido, em um processo de

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