Fernando Pessoa

473 palavras 2 páginas
Autopsicografia, Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Análise do poema: O título, que pode ser visto como um neologismo, já que se trata de uma palavra criada pelo autor. A palavra autopsicografia é a junção de duas palavras: auto: que exprime a noção de próprio, de si próprio, por si próprio; e psicografia: história ou descrição da alma. Seria um tipo de relato do eu interior do poeta. O poema foi desenvolvido em três estrofes de quatro versos cada, com versos metrificados em redondilha maior, (sete sílabas métricas), com rimas alternadas, (A/B, A/B) (C/D, C/D) (E/F, E/F), e cesuras ora no terceiro, ora no quarto, ora no quinto verso. Inicia-se o poema com uma metáfora: "O poeta é um fingidor." Quando o significado de uma palavra é atribuída a outra. E através dessa metáfora se desenrola todo o poema, sempre com um dado novo nas estrofes seguintes para o andamento dos fatos. Mas em primeiro plano, vamos nos ater na primeira estrofe, que tem sido pedra de discórdia entre alguns doutos no assunto, e valido ao poeta a acunha de mentiroso por conta de interpretações errôneas. Quando Fernando Pessoa conceitua o poeta de fingidor não está, com isso de maneira alguma, atribuindo ao poeta a condição de mentiroso, de falso ou algo parecido. Mas está dando ao poeta o poder de se colocar no lugar de outrem, de sentir sua dor, para dá vazão ao tema proposto: (...) Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente." E até mesmo, o poeta se confunde com a dor sentida, achando ser a própria dor. Na segunda estrofe, há o aparecimento de uma terceira figura, o próprio poeta na condição de leitor: " E os que lêem o que escreve/Na dor lida

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