Excertos

Texto: AURÉLIO VÍTOR E A ÁFRICA ROMANA
EXCERTO 1
No que se refere ao primeiro quesito, Aurélio Vítor sublinharia que, durante o reinado de Marco Aurélio (161-180), muitas cidades foram restauradas e embelezadas, em especial “a púnica Cartago” (inprimis Poenorum Carthago), que havia sido devastada por um incêndio (Aur. Vict., Hist. abbreu. 16.12)(2). Na sequência do texto, ao relatar a usurpação de Domício Alexandre, vicário da África que havia se insurgido contra Maxêncio (306-312) entre os anos de 308 e 309, o historiador destacaria que tal revolta eclodiu “apud Poenos”, isto é, “entre os púnicos” (Aur. Vict., Hist. abbreu. 40.17). Cabe recordar, pois, que a cidade de Cartago correspondia ao centro das operações levadas a cabo por Domício Alexandre. Poder-se-ia sugerir, logo, que Aurélio Vítor pretendeu sinalizar aos seus potenciais leitores o caráter distintivo de Cartago no seio do Império romano, quer dizer, a sua herança púnica.(Página 18.)
EXCERTO 2
Aventamos que o emprego do epíteto de “terrarum decus”, antes do mais, comportava uma dimensão emotiva, por parte de Aurélio Vítor, diante de sua patria local, Cartago, ou, de maneira mais ampla, a África romana. P. Le Roux (2003, p. 150) esclarece que a noção de patria, embora polissêmica, se situava mais propriamente no campo da afetividade e dos sentimentos. A “pátria” equivaleria à comunidade de origem de um indivíduo, à terra que o havia engendrado, herdada do trabalho e da sagacidade de seus ancestrais; desta feita, não se confundiria com a res publica ou a ciuitas (pensadas enquanto conjunto de instituições e práticas as quais convinha defender e administrar em benefício de todos) e tampouco com os ciues, ou seja, com a coletividade circunscrita a um dado lugar e que, malgrado a sua diversidade, manter-se-ia unida em torno de um objetivo comum.(Páginas 18 e 19)
EXCERTO 3
Partindo destes pressupostos, consideramos que Aurélio Vítor buscou enfatizar o peso da Cartago “romana e imperial” – posição que não o