Estudos sobre a histeria
TEXTO 2
ESTUDOS SOBRE A HISTERIA
JOSEF BREUER E SIGMUND FREUD
CAPÍTULO II:- CASOS CLÍNICOS
CASO 5 - SRTA. ELISABETH VON R. (FREUD)
No outono de 1892, um médico meu conhecido pediu-me que examinasse uma jovem que vinha sofrendo há mais de dois anos de dores nas pernas e que tinha dificuldades em andar. Ao fazer esse pedido, acrescentou que julgava tratar-se de um caso de histeria, embora não houvesse nenhum vestígio das indicações habituais dessa neurose. Disse-me conhecer ligeiramente a família, e que, nos últimos anos, ela tivera muitos infortúnios e pouca felicidade. Primeiro, o pai da paciente morrera, em seguida a mãe tivera de submeter-se a uma séria operação da vista e logo depois uma irmã casada sucumbira a uma afecção cardíaca de longa duração após o puerpério. De todas essas dificuldades e todos os cuidados dispensados aos enfermos, a maior parcela recaíra sobre nossa paciente. Minha primeira entrevista com essa jovem de vinte e quatro anos de idade não me ajudou a realizar grandes progressos na compreensão do caso. Ela parecia inteligente e mentalmente normal, e suportava seus problemas, que interferiam em sua vida social e seus prazeres, com ar alegre — a belle indifférence dos histéricos, como não pude deixar de pensar. Andava com a parte superior do corpo inclinada para a frente, mas sem fazer uso de qualquer apoio. Sua marcha não era de nenhum tipo patológico reconhecido e, além disso, de modo algum era notavelmente mau. Tudo o que se observava era que ela se queixava de grande dor ao andar e de se cansar rapidamente ao andar e ao ficar de pé, e que depois de curto intervalo tinha de descansar, o que diminuía as dores mas não as eliminava inteiramente. A dor era de caráter indefinido; depreendi que era algo da natureza de uma fadiga dolorosa. Uma área bastante grande e mal definida da superfície anterior da coxa direita era indicada como o foco das dores, a partir da qual elas se irradiavam com mais