Estudante

“Os três homens e o boi dos três homens que inventaram um boi”: um conto metalingüístico
Adilson dos Santos1
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Centro de Letras e Ciências Humanas – Universidade Estadual de Londrina (UEL) [e-mail] Abstract. This essay analyses the metalinguistical aspect of the short story “Os três homens e o boi dos três homens que inventaram um boi”, by João Guimarães Rosa. Keywords. João Guimarães Rosa; short story; metalanguage. Resumo. Este estudo aborda o caráter metalingüístico do conto “Os três homens e o boi dos três homens que inventaram um boi”, de João Guimarães Rosa. Palavras-chave. João Guimarães Rosa; conto; metalinguagem.

“Os três homens e o boi dos três homens que inventaram um boi” – conto que integra a coletânea intitulada Tutaméia (Terceiras Estórias) (1967), de João Guimarães Rosa (1908-1967) – foi publicado pela primeira vez em 15/10/1966, na revista Pulso (RJ). Como o próprio título da narrativa já, antecipadamente, informa, trata-se da estória de três homens que um dia inventaram um boi, criação esta que acabou por se tornar real. São eles Jerevo, Nhoé e Jelázio, “vaqueiros dos mais lustrosos” (Rosa, 1985, p. 126)i. Há, pois, no conto, a presença de dois processos de criação. O primeiro, no plano da enunciação, efetivado por uma instância locutora, e o segundo, no plano do enunciado, realizado pelos citados personagens. No que se refere ao plano da enunciação, todo o relato é conduzido por um narrador heterodiegético, ou seja, alguém situado fora dos acontecimentos, que se apresenta de forma anônima e que se dirige a um narratário, igualmente não-nomeado, que lhe faz companhia. É ele quem domina o universo que será dado a conhecer, ou melhor, conhece a estória em sua gênese. Todavia, a maneira com a qual abre o relato – endereçando-o já, na primeira linha do texto, ao seu interlocutor – demonstra certa despreocupação com relação à veracidade dos fatos que estará a narrar. A narrativa se inicia da seguinte maneira: “Ponha-se que