epistemologia
Ruptura epistemológica, corte epistemológico e ciência
A ciência não é totalmente «transparente», nem mesmo para os que a fazem. O que torna científico um conhecimento? 0 que caracteriza a abordagem da realidade feita pela ciência? Como entender o progresso em ciência? Todas estas e outras questões são obscuras para os próprios cientistas e legitimam um outro nível de análise, que é o da epistemologia. Situando-se neste nível, o presente artigo apenas se refere, no entanto, a dois conceitos-chave: o de ruptura —momento em que uma ciência se funda, produzindo o seu objecto e o seu método — e o de corte — momento em que uma ciência se re-faz, produzindo de novo e em novos moldes o seu objecto e o seu método.
1. Introdução
Embora o tema pedisse, exigisse mesmo, um tratamento interpretativo-crítico, em latitude e longitude, este trabalho tem uma feição puramente pedagógico-descritiva. Porque se está plenamente consciente da sua complexidade, importa, desde o início, salientar o carácter provisório do texto que ora se apresenta.
Constrange, com efeito, ter de se ceder ao imperativo da actualidade e da urgência (como seguidamente se explicará, estas referem-se ao caso português) e correr o risco de se ser imputado de ensaísmo gratuito. É que importa não cair na ilusão de se identificar a apreensão genérica de uma problemática com as exigências que decorrem da investigação autêntica da mesma. Ilusão essa que é tanto mais vulgar, mas tanto menos permissível, quanto o objecto de estudo, como sucede ao deste caso, escapa, pelas suas características próprias, a um «primarismo perceptivo».
Limitado, pois, a uma visão periférica, este estudo, sem perder em rigor na área restrita em que se move, não ultrapassará a enunciação dos seus aspectos mais simples.
A urgência e a actualidade do tema articulam-se directamente com a necessidade e a urgência de se pôr em causa um ensino e
formação que, decorrendo de um cientismo à século