Entre Vales: o ser humano e suas tragédias
O ser humano vive o Anti-intelectualismo em sua pior forma.
Sejam em programações televisivas ou nos entorpecentes realitys-shows e campeonatos esportivos, a regra inconsciente dos espetáculos é: “não precisamos pensar”.
Tudo precisa ser exposto da forma mais fácil, mastigada, e, quando possível, explosões, tiros e romances imperfeitos precisam estar presentes. É a desmistificação do jargão de que “a arte faz pensar”. Quanto mais identificável, melhor.
No cinema, cada vez mais, essa tendência vem sendo utilizada, obtendo resultados expressivos no quesito financeiro. Ao que parece, a única coisa que importa nos dias de hoje. Um pouco mais de complexidade em algumas tramas e a pecha de “filme-cabeça” é vinculada sem dó ou vergonha de reduzir as discussões a rotulações supérfluas. E daí para o fracasso financeiro e o distanciamento do publico é um pulo.
O primeiro longa-metragem de Philippe Barcinski já nasceu fadado ao fracasso comercial. Infelizmente. Produzido pela Globo Filmes e pela O2 Filmes, “Não por Acaso” (2007) talvez seja o melhor exemplo de cinema de qualidade, feito por mãos tupiniquins, em anos. Um filme fora da curva da banalização cinematográfica que vem se transformando as películas brasileiras.
Vencedor da categoria “Melhor Filme” no 8º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, em 2013, o novo longa-metragem de Philippe Barcinski, “Entre Vales”, impressiona pela qualidade e o “não descanso” dado para a mente do espectador.
A história é focada em Vicente, vivido por Ângelo Antônio (Dois Filhos de Francisco). O economista vê a sua vida esfarelar com uma série de perdas significantes, e se transforma na matéria-prima de seus melhores dias como ser humano. Com sequências entrecortadas entre o passado e o presente, Barcinski não entrega o jogo até poucas cenas antes do fim, o que gera múltiplas interpretações possíveis, antes que se entendam os pontos finais em meio às várias vírgulas do filme.