Entre “nós” e “eles”: o imaginário social e os povos indígenas no Amapá e norte do Pará
José Alcimar Rodrigues da Costa Graduado em História pela Universidade Federal do Amapá
HISTÓRIAS, ORÍGENS E DIFERENCIAÇÕES ÉTNICAS
Os dez povos indígenas que hoje habitam o Amapá e norte do Pará correspondem aos descendentes dos históricos grupos que acorreram para a região, em rota de fuga ou migração, a partir do século XVI (Capiberibe, 2007); (Gallois e Grupioni, 2009); (Tassinari, 2003). Estes povos construíram um complexo cultural dinâmico e resultante de mais de três séculos de história em comum, representada por um conjunto de relações sociais, comerciais, políticas, matrimoniais e rituais. Durante esse longo percurso de contatos entre si, acumularam experiências, estabeleceram processos de separação ou fusão de etnias, alianças, trocas ou guerra, substituição ou aquisição de itens culturais. Relações que se propagaram ao longo do tempo e a partir do contato entre as mais diversas etnias indígenas, e entre estas e os não índios, dinâmica que ainda se faz presente nas famílias que moram na região nos dias atuais.
Nesse sentido, Capiberibe (2007) ao analisar a etnia Palikur em seu contexto histórico com os demais povos da região do Uaçá (extremo norte do Amapá e fronteira com a Guiana Francesa) comenta que,
A região do Uaçá é comumente descrita como uma zona de refúgio para a qual teriam acorrido, entre os séculos XVI e XVIII, as populações indígenas mais perseguidas por caçadores de escravos e pelas Tropas de Guarda-Costa portuguesas (CAPIBERIBE, 2007, p. 89).
Os povos indígenas que deram origem as atuais famílias que habitam a região do Amapá e norte do Pará parecem com frequência nos relatos das expedições, as mais variadas, desde o início da colonização. Dessa forma, Gallois e Grupioni comentam que:
É o que atestam os relatos escritos por viajantes a partir do século XVII, que descrevem a região como uma área de intenso contato entre populações