ensaio quanto vale ou é por quilo?

A partir da comparação entre o conto Pai contra mãe, de Machado de Assis, e a adaptação deste texto no filme Quanto vale ou é por quilo? (2005), de Sérgio Bianchi, podemos analisar como as obras em questão dialogam com a história do Brasil, enfatizando os impasses da formação sócio-econômica e cultural do país, marcada pelo escravismo e pela exclusão social. Ao atualizar o roteiro de Machado de Assis, Bianchi costura dois planos temporais, mostrando o quanto dos séculos XVIII e XIX persiste no século XXI do tempo brasileiro.
O conto Pai contra mãe, publicado em 1906, no livro Relíquias da Casa Velha, aborda um esquecimento da memória nacional: a escravidão como a instituição social que organizou a vida sócio-econômica brasileira desde o século XVI.
O conto narra uma história de fuga e perseguição, destacando estranhas simetrias que constituem a ordem repressiva escravocrata, à qual se ligaram Cândido Neves, caçador de escravos foragidos, e Arminda, uma jovem mulata foragida, apresentando como a escravidão envolvia aparelhos, ofícios e pessoas. Pressionado pela má condição financeira e pela iminência de ter que deixar o filho recém nascido na Roda dos enjeitados, Candinho seleciona o anúncio de recompensa pela captura da escrava Arminda, e passa a procurá-la pelas ruas do Rio de Janeiro. No dia em que entregaria o filho, Candinho consegue capturar Arminda, que está grávida e implora pela liberdade. Diante da inclemência do caçador, ela luta até o limite de suas forças, mas, ainda assim, é devolvida ao dono, abortando na frente deste e do caçador de escravos. Candinho volta para casa com o filho e pondera que “nem todas as crianças vingam”. Na transposição do texto para filme, Arminda é moradora de uma favela carioca, envolvida na implementação de um projeto de informática na comunidade, em parceria com uma organização não-governamental, a Stiner, uma empresa especialista em marketing social. Candinho é um desempregado que, se colocando a serviço de pequenos