Eletrólise

1º QUADRO

Odorico aparece discursando cortejado em um palanque com vários apoiadores e a inscrição “VOTE EM ODORICO”.
ODORICO: Sucupira! Essa cidade não pode continuar nessa situação! (Aplausos) Na atual conjuntura a gente tem que fazer o cemitério municipal! (Mais aplausos) Uma cidade que não respeita seus mortos, não pode ser respeitada pelos vivos! É incrível que essa cidade mui justamente chamada, apelidada, e por que não dizer, cognominada, a pérola e orgulho do estado, pela boniteza da sua paisagem, pelo arejamento e por que não dizer pela frescura do seu clima, não tem para seus mortos um cemitério. Temos urgência urgentíssima de um campo santo. Quem ama, quem gosta, e por que não dizer, quem idolatra sua terra merece nela descansar. Por isso, vote num homem sério e ganhe um cemitério!
Música: Jingle Odorico
Algum tempo depois
2º QUADRO
Cenário: gabinete do prefeito; mesa centralizada com vários objetos.
DOROTÉA: Parabéns. Foi ótimo o seu discurso.
JUJU: Disse o que precisava dizer.
ODORICO: Obrigado, obrigado.
DIRCEU: De um homem assim é que a gente precisa.
JUJU: Formidável.
ODORICO: Obrigado, obrigado. Conto com vocês.
DOROTÉA: Pode contar. Comigo e com minhas irmãs. Queríamos convidar o Prefeito pra tomar um licorzinho conosco lá em casa esta noite. Podemos esperá-lo?
ODORICO: Podem... Vamos comemorar a posse.
DOROTÉA: Então, até mais logo. Você vem, Juju? Dirceu...?
DIRCEU: Eu vou ter que ficar. Agora sou secretário do Prefeito... Me espere em casa, bem... não demoro.

Juju e Dorotéa saem.
Dirceu continua.

ODORICO: Dirceu, quero saber logo se há alguma verba para dar início à construção do cemitério.
DIRCEU: (Coloca algumas pastas em cima da mesa.) Nem um tostão. Só déficit.
ODORICO: (Folheia as pastas.) Não é possível.
DIRCEU: (Examinando um processo na pasta:) Parece que há um restinho de verba da água.
ODORICO: Da água?
DIRCEU: É, para consertar os canos.