Edorno

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Meio ambiente e homem: um olhar marxista
Fernando Antonio da C. Vieira1

Desde o início da história dos homens, o convívio com o meio ambiente marcou a própria capacidade de sobrevivência da espécie, na medida em que dependia dos produtos coletados e da caça. Esta percepção da dependência ao meio em que e na adoração da mãe-

viviam se configurou na deificação do meio ambiente natureza.

No mundo grego, a terra, mãe-natureza, vivia em função de seus filhos, todos os seres vivos, alimentando-os e vendo-os viver, tal como cantava Hesíodo: "Gaia de amplos seios, base segura para sempre oferecida a todos os seres vivos"2, cabendo aos homens proteger o meio em que viviam, ciosos de que a sua destruição implicaria na própria quebra da lógica da vida, assumindo uma relação de harmonia mítico-religiosa com o ambiente em que viviam e a quem deveriam preservar, respeitar e honrar.

De forma completamente antagônica a esse olhar de mundo vivenciado pelos gregos, encontramos a concepção judaico-cristã que via a terra como uma posse dos homens a quem caberiam dominar "os peixes do mar, as aves do céu, os animais
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domésticos"

e com as bênçãos de Deus, "subjugar a terra"4. O meio ambiente

passou, portanto, a ser visto como um objeto presenteado aos homens, e não uma entidade divina a quem caberia o amor filial. Presente de Deus, a natureza deveria alimentar os homens e, por sua vez, se sujeitar aos caprichos da humanidade. Refém dos anseios humanos que libertos de obrigações filiais com a terra a explorariam livremente rezando ao deus único, masculino e transcendental, localizado num mundo de abstrações metafísicas.

1 Mestre em história pela UFRJ, doutor em sociologia pela UFRJ. Autor de diversos artigos e livros, destacando: Sociedade brasileira: uma história através dos movimentos sociais, PCB: 80 anos de luta e Rio de Janeiro: panorama sócio-cultural. 2- Hesíodo. Teogonia. Niterói: EDUFF, 1986, p. 34. 3- Gênesis, I , 26. 4- Gênesis, I, 28.

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