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Não sabia ao certo como estava sobrevivendo ao calor daquela estação, mas Constanzia sabia que era a primavera mais quente que já havia presenciado em seus vinte anos de vida. Nada, exatamente nada poderia amenizar a sensação térmica de quase cinquenta graus de Monterrey. Nem um sereno fino nas noites de março. Nem um pingo de chuva naquela semana. O que era deveras preocupante, já que a seca era temida como a ira de Deus e Virgem Guadalupe. A voz de Alejandro Sanz era a trilha sonora da noite naquele camarim. Enquanto mantinha os seios semi fartos dentro do traje, ajeitando as mamas com ambas as mãos, as benditas madeixas negras e longuíssimas atrapalhavam o seu trabalho, causando uma certa irritação devido ao calor excessivo. Os pés recém foleados e feitos com a sua pedicure rotineira estavam expremidos dentro daquele sapato de salto alto. A morena era vaidosa. Extremamente vaidosa. E perfeccionista. Não admitia um bendito defeito nas suas noites. Se era para ser a perdição de pobres homens, e levá-los ao paraíso por dois minutos, que fosse do jeito mais intenso possível. Não era a toa que o boca-boca daquele lugar espalhava que a mãe de Constanzia, ex prostituta e decendente de bruxas, havia dado a filha o dom de enfeitiçar qualquer um com seu charme deveras natural. Ela não era a mulher mais linda do mundo, mas sabia que havia sido agraciada com tamanha beleza. Uma beleza bruta, que sempre era exaltada pelo batom vermelho em seus lábios bem preenchidos e por seus imensos olhos verdes. O que era estranho, já que sua mãe e sua avó não tinham nada de olhos claros. A sua origem era um mistério, já que a mãe, como dito antes, era puta. Se tinha vergonha daquilo? Nunca. Pensava que uma mulher poderia ser o que quiser, e sem ninguém ter o direito de julgar. A mãe a criou arregaçando as mangas, e ensinando tudo o que ela deveria saber para se tornar a pessoa que era. Para os visitantes e turistas, ela poderia ser só mais uma "puta dançarina" de Monterrey. Para os