Ditadura

983 palavras 4 páginas
Usar a ficção para re­constituir a realidade com outras palavras e outros nomes — até para não ferir suscetibilidades — é o desafio que muitos escritores têm imposto a si mesmos — mas nem sempre todos se saem bem, o que é natural, pois tudo depende do talento de cada um. Não é o caso do autor deste li­vro, Alaor Barbosa. Roman­cista, contista e estudioso da literatura brasileira, Barbosa escreveu “Vasto Mundo”, volumoso ro­mance de 704 páginas, como u­ma forma de procurar entender a trajetória de sua própria vida, a partir da transfiguração da rea­lida­de. E se saiu muito bem.

Se provavelmente não conseguiu explicá-la ou justificá-la para si mesmo — até porque esta é uma tarefa impossível, reservada apenas aos deuses, se é que estes ainda existem —, pelo menos deixa-nos um legado de um Brasil que, mal ou bem, existiu até 1964 e que foi destruído — com a interrupção do destino que havia sido traçado para muitas vidas — em nome de ideais que, hoje, vistos à distância de quase meio século, não valiam a pena ser defendidos.

Nem do lado daqueles que exercitaram os piores sentimentos da espécie humana, torturando, mutilando e matando seus se­melhantes, nem daqueles que lu­taram por uma quimera, a de um mundo mais justo e mais bem dividido, que, no fundo, não passaria de um regime em que uns poucos mandariam muito (e igualmente viveriam bem) e muitos viveriam numa habitação coletiva ou, se tivessem sorte e amigos influentes, num apartamento de um pardieiro subsidiado pelo Estado.

Hoje, depois de tanto sofrimento e desilusão, conclui-se que nada daquilo valia a pena. Até porque muitos dos perseguidos daqueles tempos, em meio aos aproveitadores de plantão e aos oportunistas de todas as ocasiões, continuam ainda por aí a meter os pés pelas mãos, como a mostrar que, do outro lado, também não havia santos. E que, se tivessem vencido a tal “guerra suja”, também não nos teriam dado um mundo melhor. Até porque não se sabe o que essa gente seria capaz de fazer se também

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