Diretas ja
A mesma imprensa que três décadas antes se deixara envolver em conspirações antidemocráticas – como os movimentos que deram no suicídio do presidente Getúlio Vargas, na deposição João Goulart e no apoio ao golpe civil-militar de 1964 – aproveitaria a campanha das diretas para se redimir.
O primeiro veículo a encampar a Emenda Dante de Oliveira foi a Folha de S. Paulo, seguida por duas emissoras de televisão, a Bandeirantes e a extinta Manchete.
A dimensão do Comício da Sé e a percepção de que a população apoiava incondicionalmente a eleição direta e o fim do regime levariam, de roldão, os demais veículos, e até mesmo a recalcitrante Rede Globo, que até então acompanhava o movimento, mas não noticiava.
O comício uniu os 16 governadores de oposição, artistas e intelectuais – boa parte deles do elenco da Globo – numa época em que internet e redes sociais eram meros exercícios de ficção. A Globo o incluiu discretamente entre os atos de comemoração dos 430 anos de São Paulo, mas depois, forçada pelas vaias e pelo instinto de sobrevivência, se rendeu.
"A convocação era feita por panfletos", lembra o jornalista Ricardo Kotscho, que trabalhava na Folha de S. Paulo e teve a ideia de sugerir ao comando da redação que o jornal se envolvesse na campanha.
"A Folha foi o único veículo que se engajou. O jornal publicava até o roteiro dos comícios. Os outros noticiaram quando não dava mais para segurar", diz Kotscho, que trabalhou sem folgas nos quatro meses mais intensos da