Dilemas morais e jurídicos da obra antígona

1 INTRODUÇÃO

A peça teatral “Antígona” foi escrita por Sófocles e apresentada pela primeira vez, provavelmente, em 441 a.C., em um teatro de Atenas. Como toda tragédia grega, representa de forma dramática os valores humanos contraditórios, mas se diferencia significativamente por ser ambientada na esfera da coletividade, tratando-se assim de um drama não só individual, mas também e, principalmente, social.
Antígona é filha de Édipo, o então rei de Tebas, e de Jocasta. Seus irmãos era Polinicies, Etéocles e Ismene. Após a morte de seu pai, seus irmãos passam a disputar o trono de Tebas e chegam ao acordo de revezar o trono a cada um ano. Porém, Etéocles, ao fim de seu prazo, se recusa a transferir o reinado da cidade ao seu irmão. Polinicies, então, vai para Argos, cidade inimiga de Tebas, e, durante o conflito entre as duas cidades, acabam mortos um pelo outro. Creonte, tio de Antígona, assume o reinado e proíbe o sepultamento de Polinices, que foi considerado um traidor. Já Etéocles recebeu sepultamento com honrarias por ter sido considerado um herói. Antígona, irmã de ambos, se recusa a obedecer o decreto de Creonte e resolve ela mesma realizar, mesmo que de forma simbólica, os rituais de sepultamento de seu irmão Polinices, mesmo sabendo que isso acarretaria em sua condenação à pena de morte.
Inicia-se então o grande dilema que permeia a obra: quem agiu de maneira correta? Antígona, ao prestar culto a seu irmão falecido, como era tradição, ou Creonte, ao condenar a mulher que desrespeitou seu comando, enquanto soberano, mesmo contra a opinião dos cidadãos?

2 AS EXIGÊNCIAS DO DIREITO NATURAL VERSUS DIREITO POSITIVO

Segundo o filósofo alemão Hegel, a peça é uma exposição das tensões latentes na sociedade grega. A cultura da Grécia Antiga era baseada nas tradições e no respeito aos deuses, fundamentando-se, principalmente, em um direito natural, imutável mesmo frente a uma norma que o contradissesse.
Hegel apresenta as duas exigências que recaem sobre