Diferença entre ciencia social e natural
Bebida é água.
Comida é pasto.
Você tem sede de quê?
Você tem fome de quê?
A gente não quer só comer,
A gente quer comer e quer fazer amor.
A gente não quer só comer,
A gente quer prazer pra aliviar a dor.
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer dinheiro e felicidade.
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer inteiro e não pela metade.
“Comida”, música de Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Britto
Ao afirmar que se quer mais do que comer, a canção dos Titãs (grupo musical brasileiro) dialoga com visões reducionistas que restringem as necessidades humanas aos limites estabelecidos pela biologia.
Mas, ao mesmo tempo, evidencia na sociedade a existência de uma percepção limitada dos significados da comida: a letra estabelece disjunção entre o ato de “só comer” e aqueles associados ao amor, ao prazer, à felicidade, à plenitude humana.
Trazendo à reflexão o debate sobre alimentação e cultura, e desnudando alguns elementos desse debate para o caso brasileiro, buscaremos, neste artigo, apontar algumas das dimensões que, conferindo à escolha, à preparação e ao consumo de alimentos atributos relacionados às identidades sociais, podem dar pistas para pensar a relação entre comida e cidadania.
Comida é pasto?
É bem verdade que a satisfação das necessidades nutricionais é condição indispensável para a sobrevivência de seres humanos. Entretanto, os significados da alimentação para as sociedades não podem ser compreendidos apenas a partir de indicadores nutricionais. Nas palavras de Claude Fischler:
O homem é um onívoro que se alimenta de carne, de vegetais e de imaginário: a alimentação conduz à biologia, mas, é evidente, não se reduz a ela; o simbólico e o