DEUS EM TERAPIA
Cristóvão Albuquerque e Silva. Cristóvão, que não era Colombo, embora como ele pudesse descobrir terras desconhecidas sem, contudo, lograr saber como desvendar o segredo das emoções. Por isso Cristóvão decidiu cursar psicologia. Sempre pensou que se a filosofia tentava resolver o ser e o nada a psicologia nem isso conseguia. Mas levou adiante seu intento.
Formou-se e montou uma clínica bem sucedida. Passava as tardes em seu consultório, ouvindo as lamúrias dos pacientes, com muita paciência. Costumava dizer que paciente era o terapeuta.
Já fazia uns trinta anos que desenvolvia esse trabalho numa rotina indigesta. Até que um dia teve uma surpresa. Alguém lhe mandara um e-mail para marcar consulta. Não era nem mais nem menos do que Deus. O quê, Deus? Não pode ser. Quem era o velho psicólogo para ser o escolhido? Terapia de Deus?
No dia marcado lá estava Ele. Um homem comum. Sem barba, calçando tênis e vestindo jeans.
Como vou fazer terapia no Senhor que é um ser perfeito? Como compreender a perfeição? Deus, simplesmente, objetou: e eu que sou um ser perfeito como entender todas as fragilidades da imperfeição? Estamos empatados.
Desconcertado, Cristóvão pigarreou e resolveu começar a análise, ainda que por dentro estivesse estupefato: análise de Deus!
Estou cansado, começou o paciente. Cansado de tantas pessoas se matarem invocando meu nome. Cansado de todas as reclamações, súplicas e penitências dirigidas a mim. Criei os homens à minha imagem e eles não querem assumir suas fraquezas. Por que tamanha destruição de meus rios, de meus pássaros, das minhas terras? Onde falhei? E ainda tenho que me atribuir a perfeição. Esse é o dilema patético da vida: a toda hora me chamam para resolver problemas que, na verdade, eu mesmo criei, porque fiz esse ser que dominou o mundo com sua tecnologia imperfeita e a desmedida pretensão de modificar o sistema. Esqueceu a regra básica que é amar o seu semelhante.
Deus, depois de um