Designer

Pacard se parece muito com o que escreve. Tem um faro fino pra contar histórias. Além de ser um homem de rara inteligência, de uma genialidade comprovada, divertida e cativante. Acredito que nenhuma designação podia lhe ser mais apropriada. O conheci ano passado (2013), em Andradina no Mato Grosso do Sul. Com um ar sério e enigmático, ele se aproximou do grupo com o qual eu estava conversando e nos contou uma história semelhante àquela que a gente ouve de quem perdeu o ônibus e não tem como comprar uma nova passagem. Em atitude de solidariedade, fiquei num expectante e respeitoso silêncio, não imaginava que as pessoas do grupo já o conheciam. Em tom premonitório sua história foi contada com tamanha perfeição e de forma tão impactante que ao seu término eu já estava com a mão na carteira, pronto para doar o quanto lhe fosse necessário. Diante de minha atitude inusitada e inocente, ele sorriu espantado. Com toda amabilidade e ponderação disse-me que estava brincando:

Homem que Vendia Ideias

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-“este é um artifício que utilizo para animar as rodas de conversa”. Há uma resistência obtusa, inclusive entre os espíritos refinados, de ficarem comovidos diante do ineditismo e desafios da vida, assim como aos sofrimentos dos outros. Pior ainda é quando se sentem envolvidos por uma história surreal, aí rosnam em desatino. Eu não havia feito aquilo para lhe parecer gentil. Fiz por que ele tocou meu cérebro que sente: o coração. Mas o acontecido me conduziu a uma reflexão: como é que ele conseguiu seduzir em tão pouco tempo um cara tão “rodado” como eu? Apesar de ser tão antigo quanto um relógio de cuco, meu comportamento era uma forte evidência de que eu não era tão experiente assim. Pois, diante do inesperado e do deslumbramento de sua história, a razão havia perdido temporariamente as rédeas da situação, e imediatamente busquei no bolso o que lhe faltava. Confesso que fiquei admirado por tamanha perspicácia.
É exatamente isso,