Desconstrução, hegemonia e democracia: o pós-marxismo de ernesto laclau
O PÓS-MARXISMO DE ERNESTO LACLAU
Joanildo A. Burity
Departamento de Ciência Política,
Fundação Joaquim Nabuco
Mestrado em Ciência Política,
Universidade Federal de Pernambuco
INTRODUÇÃO: SALVAR A TRADIÇÃO?
Exumações prematuras à parte, o destino de uma tradição raramente está posto nas mãos dos que se encontram fora dela. Pelo menos não em se tratando da mera enumeração de suas inconsistências e evidências de fracasso. Porque uma tradição não se sepulta nem se abandona simplesmente. Até onde ela foi capaz de se constituir como objeto de adesão de um grupo de pessoas, seus impasses e paradoxos remetem sempre para possibilidades abertas e (ainda) irrealizadas, ou mesmo irrealizáveis. Obviamente, não está dado de antemão qual será a direção tomada por tais reinvestimentos, tampouco se serão bem sucedidos. Refundações, revisões, recomposições e reconstruções são algumas dessas propostas de continuar ou resgatar um legado. A partir dos anos 60, uma outra forma de habitar uma tradição se colocou no horizonte intelectual e político de nosso tempo: trata-se da proposta de Jacques Derrida, inspirada em Nietzsche e Heidegger, de desconstruir o edifício que ora se apresenta como monumento dos diversos elementos constitutivos da tradição, mostrando a contingência e historicidade última de sua configuração. Ao invés de se apresentar como um "para além de", uma ruptura ou uma Aufhebung hegeliana, inaugurando algo inteiramente novo e livre de paradoxos e imperfeições, a atitude desconstrutiva joga com as brechas e incompletudes do que é, do que se apresenta como clausura, como fait accompli, e ora reativa as questões originais, ora se abre resolutamente ao chamado do outro, ainda que sob a forma do que sempre já apontou, na própria tradição, para outras possibilidades de ser.
No caso do marxismo, as várias tentativas que se fizeram de responder ao hiato crescente entre sua lógica estrutural(ista) e as contingências