Deleuze Proust e os signos

27169 palavras 109 páginas
DELEUZE, Gilles (2003) Proust e os signos. 2.ed. trad. Antonio Piquet e Roberto Machado. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003.

Proust e os signos

GILLES DELEUZE

2.ed

Forense Universitária – RJ 2003

Capítulo I
Os Tipos de Signos

3
Em que consiste a unidade de A la recherche du temps perdu?
Sabemos ao menos que ela não consiste na memória, nem tam­pouco na lembrança, ainda que involuntária. O essencial da Re­cherche não está na madeleine nem no calçamento. Por um lado, a Recherche, a busca, não é simplesmente um esforço de recor­dação, uma exploração da memória: a palavra deve ser tomada em sentido preciso, como na expressão "busca da verdade". Por outro lado, o tempo perdido não é simplesmente o tempo passa­do; é também o tempo que se perde, como na expressão "perder tempo". É certo que a memória intervém como um meio da bus­ca, mas não é o meio mais profundo; e o tempo passado inter­vém como uma estrutura do tempo, mas não é a estrutura mais profunda. Os campanários de Martinville e a pequena frase mu­sical de Vinteuil, que não trazem à memória nenhuma lembran­ça, nenhuma ressurreição do passado, têm, para Proust, muito mais importância do que a madeleine e o calçamento de Veneza, que dependem da memória, e, por isso, remetem ainda a uma "explicação material".l
Não se trata de uma exposição da memória involuntária, mas do relato de um aprendizado – mais precisamente, do aprendizado de um homem de letras.2 O caminho de Méséglise
l.P321.
2. TR 150.

4 e o caminho de Guermantes são muito menos fontes de lem­brança do que matérias-primas, linhas do aprendizado. São os dois caminhos de uma "formação". Proust freqüentemente aborda situações como esta: em dado momento o herói não co­nhece ainda determinado fato que virá a descobrir muito mais tarde, quando se desfizer da ilusão em que vivia. Daí o movi­mento de decepções e revelações que dá ritmo a toda a Recher­che. Pode-se evocar o platonismo de Proust – aprender é ainda relembrar; mas,

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