cronica

E Assim Termino Esta Crónica

E assim termino esta crónica, feliz por lhe ter conseguido encontrar um início. É sempre um momento triste aquele em que decido escrever. Escrever alguma coisa é, de uma maneira muito hiperbólica e dramática um ato masoquista e desequilibrado de quem deseja expressar uma ideia mas sobre o intenso sofrimento e frustração de lhe arranjar um início. Infelizmente não é a primeira vez que toco neste assunto. Numa manhã há tempos abordei um daqueles meus vizinhos reformados á cerca da sua obcessão pela rotina de se levantar ridiculamente cedo para se sentar no banco de jardim do largo da igreja e permanecer lá só á espera da hora do almoço. Um senhor com uma atitude ligeiramente inútil, para ser benevolente, mas que me deu uma resposta muito útil para compreender melhor a minha estúpida fobia a escrever inícios: “Só custa no início cachopa, depois a gente habitua-se e até que sabe bem”.
“É estranho mas este homem e eu temos um grave problema em comum”, pensei . A da aversão sentida aos inícios por parte dos indivíduos que conheço é proporcional á capacidade desta epidemia passar despercebida. Trocando a comparação por miúdos ,consome-nos o ínicio da semana, o início de uma dieta, o início de qualquer actividade fora da nossa zona de conforto que tenha de virar rotina.
Interessante, mas ainda mais interessante é somarmos o inimigo anterior á motivação e determinação da sociedade do nossos dias. Desde os fieis senhores políticos ás suas vítimas, que na hora das eleições seguintes sofrem um ataque súbito de amnésia ou preferem ficar no café a comentar o futebol, todos eles fogem de tudo o que chama á mudança, mesmo que para melhor. É difícil valorizarmos o fim de um objectivo que foi fácil de iniciar. Deixo a dica. E assim termino esta crónica, feliz por lhe ter conseguido encontrar um início.