Corpo e hipertexto
Com o tempo imprime-se no corpo marcas, involuntárias como cicatrizes acidentais e rugas ou voluntárias com tatuagens e adornos, essas marcas nem sempre podem ser apagadas, e acabam de certa maneira contando a história desse corpo e mostrando suas experiências. O corpo é dessa forma uma espécie de carta palimpsesto, comparação feita por Manoel Fernandes de Souza Neto no texto “Mapas do Corpo, Territórios de Identidade”. No texto de Raquel Wandelli ela cita Genette que usa o palimpsesto como figura para a “transtextualidade” do hipertexto. Assim, o reescrevível e a possibilidade de se demarcar uma trajetória estão presentes no corpo e no hipertexto. Essas demarcações criam mapas que levam ao conceito de cartografia também aplicada ao corpo e ao hipertexto.
Toda relação se dá a partir do corpo, o corpo é sempre nossa primeira mediação, se é que é possível chamar de meio algo que sem ele não se é, ou seja, eu sou meu corpo, ele é algo indissociável do eu. Apesar da importância do corpo na relação comunicacional, ele é muita vezes esquecido, pensado apenas como um corpo consumidor de coisas, coisas que não são feitas para se adequar a ele, mas para que ele, o corpo, se ajuste a elas. O corpo é pensado como um corpo plástico, não como um corpo orgânico, flexível e mutável. Dessa forma o hipertexto também não dá conta desse corpo, porque esse corpo é o outro diferente, é o outro que não é modelo, pois o modelo é pré-definido e o outro não pode ser pré-definido e reduzido para se encaixar em uma categoria pré-estabelecida. A hipermídia deve ser flexível para conseguir ser realmente interativa. O grande problema do hipertexto é o outro diferente, o outro como corpo concreto.
O mercado trata o corpo como algo abstrato, tentando separá-lo em camadas, em nichos de mercado, o corpo negro, o corpo gay, o corpo gordo, é assim que o mercado lida com a diferença, cultua-se a diferença enquanto consumidor. O corpo não é visto e tratado pelo mercado como algo