Contemplando a Trindade
Trindade, de Raniero Cantalamessa,
Edições Loyola.
No primeiro capítulo é abordada uma visão sobre a “Trindade na espiritualidade oriental”. Para a Igreja ortodoxa, a melhor representação artística da Trindade é o ícone no qual Rublev a retrata. O mistério da Trindade não pode ser exprimido ou visto, por isso o ícone retrata a passagem bíblica dos anjos que visitam Abraão, como sendo uma prefiguração remota da Trindade. No ícone, as figuras retratadas são os três anjos, bem distintos, embora muito semelhantes entre si.
É preciso ter em conta que latinos e gregos partem de pontos diferentes quando o assunto é Trindade. Os gregos partem das pessoas divinas para chegar à natureza, já os latinos partem da natureza para chegarem às pessoas divinas; os primeiros, da pluralidade à unidade, os outros, da unidade à pluralidade. A visão oriental nos ajuda a ver na unidade a meta que buscamos. A unidade é um anseio comum de todas as pessoas, a partir de seu próprio interior, e na medida em que há crescimento na unidade há também crescimento na santidade. Mas o fato de ser tão desejada não a torna uma realidade, isso porque o que na realidade está se buscando é que ela seja feita em torno do nosso ponto de vista, não há disposição de acolhida ao ponto de vista do outro, desta forma a unidade nunca será alcançada.
O verdadeiro caminho para a unidade nos é indicado pela Trindade. São três pessoas e uma única essência; três pessoas unidas, mas não confundidas; este é o conceito de pericorese. Na Trindade, as três pessoas sempre se glorificam reciprocamente, cada pessoa também se dá a conhecer fazendo com que a outra seja conhecida. Como seria bom se também nós vivêssemos nos promovendo mutuamente e não individualmente. A contemplação da Trindade nos ensina a superar a discórdia do mundo e caminhar rumo à concórdia. O problema não é a divergência de pensamentos, mas a divisão entre os corações, nessa perspectiva