Confissões do Tempo

PERFORMANCE POÉTICA

CONFISSÕES DO TEMPO

1-Carrego na mala do tempo
Ruídos de uma vida inteira
O comodismo de concreto
E sonhos transformados em poeira.
Poeira sem eira nem beira
Dos lugares que passei
Encontros que construí

Amores de cristal que estilhacei.

Entre o raio que me parte ao meio.

Por esta vida sem endereço.

2-Neste mundo digital
Os olhos não se cruzam
Não há suor, não há toque
Nesta Terra redonda
Que circula diante da tela plana.
Os olhares não brilham
O mouse não pulsa
E a vida toda avulsa
Segue os passos dos caranguejos.
É o futuro que vejo
Como uma estátua digital
Em gaiolas voando em algum espaço sideral.
E o que resta escrito em nossa testa?
O que resta da nossa argamassa corporal?

3-Dura como concreto
Ou frágil como o feto
Espremido entre ruídos estéreis
De homens apertados entre objetos.
Que corroem seus sonhos.
Enferrujam as poucas idéias
Nos corpos anestésicos,sedentos em ter Com a aminésia de ser, viver, crescer e até crer
Na voz que ecoa entre os grandes espaços
Vazios da humanidade que vive com vontades.

4-Vamos erguer a taça?
Dar um brinde a alegria e a desgraça
Saudar o que aurora fomos
Ou que ainda vamos ser!
Vejo sonhos voando pelos ares
Perdidos nos lugares
Ou se afogando nos bares
Dentro de um copo qualquer!
Vamos erguer a taça!
A vitória e a trapaça
Que vivem grudados em nossos pés.
Aos carinhos de nossas mães
E aos feitiços escondidos no sorriso da mulher.
Vamos caminhar devagar e sempre
Entre uma rua qualquer?
Vagaremos no desconhecido
Entre vitoriosos e vencidos
Na velha corrida do tempo
Que quer nos atropelar.
Vamos ir na ponta do penhasco
E saltar nas profundezas
Mais escuras de nós mesmos!

5-Vamos erguer a taça!
A saúde que ainda nos resta
Vamos fazer uma festa
A memória que quebra
A nossa geleira corporal..
Vamos envelhecer
Perante a sabedoria dos dias verdes e crus
Que nunca estão no ponto para devorarmos
Por completo!