Como é a linguagem literária da modernidade?
É por sua marginalidade que a literatura pode esclarecer a história de nossas práticas ede nossos saberes; é por ser experiência radical da linguagem que a literatura manifesta aexperiência de uma linguagem impessoal, que ultrapassa a oposição metafísica da ideologiada representação: as palavras e as coisas, a alma e o corpo, a interioridade e a exterioridade, o sujeito e o objeto, o eu e o mundo etc. A liberação da escrita do tema da expressão do "eu" étida por Foucault como um dos princípios éticos fundamentais da escrita contemporânea; esta"só se refere a si própria, mas não se deixa porém aprisionar na forma da interioridade;identifica-se com a sua própria exterioridade manifesta" (FOUCAULT, 1992, p.35). Naliteratura contemporânea, ao menos em alguns autores, a escrita está sempre sendo experimentada nos seus limites e não se pretende exaltação ou manifestação do gesto deescrever, nem fixação de um sujeito numa linguagem — "é uma questão de abertura de umespaço onde o sujeito de escrita está sempre a desaparecer" (FOUCAULT, 1992, p.35).A escrita, como exercício de transgressão da própria linguagem, como lugar da não-expressão do sujeito que escreve, está ligada ao sacrifício voluntário da própria vida daqueleque escreve. Essa morte voluntária manifesta-se no apagamento dos caracteres individuais dosujeito que escreve, no fim da oposição entre o sujeito da escrita e a escrita, entreinterioridade e exterioridade, retirando dos signos a sua individualidade